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COMO CURADOR DE EXPOSIÇÕES
E DIRETOR DE MUSEUS
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EXPOSIÇÕES E MUSEUS
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ARTIGO
Publicado no jornal O Globo, Opinião. Rio de Janeiro, 6.03.2021
A caminho de virar uma Coreia do Norte
Há países que se trancam por dentro para fora, como a Coreia do Norte. Há países que terminam por ser trancados de fora para dentro. É o caso do Brasil.
O discurso de nosso chanceler de que valia a pena sermos “párias” no mundo está produzindo resultados. Não se trata apenas de repetir aqui o que economistas e setores médicos vêm repetindo ad nauseam: sem vacina, nada vai andar. Sem vacina, sem planejamento, sem logística, sem vontade política, o país padece na educação, na habitação, no saneamento, na infraestrutura, na saúde.
Ora, se um general diz que um capitão expulso do Exército “manda, e eu obedeço”, percebe-se que há algo trocado. Nessa linhagem, Kim Jong-un, líder supremo, é café pequeno diante das arruaças, anarquias verbais e verborragias ocas emitidas pela boca do presidente da República. Sem máscara.
O efeito aqui dentro, junto ao curral eleitoreiro, não compensa o profundo desgaste na imagem do país lá fora. O gigante Brasil, que sempre foi respeitado internacionalmente — e continua a ser o primeiro a discursar a cada abertura da Assembleia Geral da ONU —, está se apequenando, tornando-se um país à deriva, sem representatividade nos órgãos internacionais.
A destruição da Amazônia, o aniquilamento do Cerrado e do que resta da Floresta Atlântica — somado ao desleixo com que tudo no campo da pandemia é tratado pelo poder federal — faz com que, lá fora, os que sempre olharam o Brasil com total acolhimento passem a nos olhar com pavor.
Sim, a Coreia do Norte tem mísseis balísticos; nós aqui, agora, teremos seis armas por habitante. A Coreia do Norte aguarda, com fervor, as promessas presidenciais daqui de calar a imprensa e fechar os jornais, a exemplo do que fizeram lá. O desmonte das instituições culturais federais — o IPHAN, o Instituto Brasileiro de Museus, a Agência Nacional do Cinema — pode levar, tal qual na Coreia do Norte, ao aniquilamento da história, de nossas tradições e do nosso imaginário.
A implicância do governo federal com nossos parceiros tradicionais — Estados Unidos, França, Alemanha, Argentina, China, Índia — vem nos criando óbices tremendos, inclusive no caso das vacinas. Sim, os chineses não deixaram de comprar grãos e carne... mas pode um país viver só disso? Estamos ficando distantes do planeta. Enquanto a Europa vai destinar € 975 bilhões a energias limpas, e os Estados Unidos investem na bioenergia, a preocupação aqui é permitir a mineração com mercúrio de terras indígenas.
Somos 2,4% da população global e cerca de 10% dos mortos pela pandemia. O Brasil está, ainda, habitando o planeta Terra, neste ano de 2021? Ou, a exemplo da Coreia da Norte, estamos ficando isolados de qualquer contato?
por Leonel Kaz