O novo livro do historiador e jornalista cearense, Lira Neto, é um esplendor: lava nossos olhos diante da História do Brasil e encharca, com fluídos novos, nossa memória. A pesquisa trata da saga de judeus sefardistas (da Pensínsula Ibérica) que são obrigados a sair de Portugal, com a Inquisição, e se instalam em Amsterdam, na Holanda. Pouco depois, em 1630, um grupo deles entra na empreitada de conquistar o Recife e, de lá, 23 deles, saem, em renovada jornada, para fundar... New York, New York!
Barca de NHÔ CABOCLO (1910-1976), artista pernambucano, das mesmas terras ocupadas pelos holandeses, no século XVII, que aqui chegaram em caravelas. Dizia o artista, originário de uma aldeia indígena: "Não conheci ninguém. Nasci só".
O trabalho de Lira Neto me fascina -- já tinha lido a trilogia "Getúlio" e o livro sobre "Castello Branco"--; me fascina porque o pesquisador se debruça, de corpo inteiro, sobre os textos de época e dá a eles um novo vislumbre, sem nenhum tipo de vezo subjetivo pessoal. Descubro, por exemplo, que algum Cardeal Richelieu da época leu, em abril de 1623, para o príncipe Maurício de Nassau, o texto assim intitulado (com todas as letras): "Motivos porque a Companhia das Índias Ocientais deve tentar tirar ao rei da Espanha a terra do Brasil, e isso quanto antes".
Ou seja, a dita Companhia era uma empresa destinada ao saque, às pilhagens em territórios alheios. Seus recursos vinham de comerciantes e endinheirados neerlandeses. Uma espécie de milícia organizada sob o abrigo dos poderosos de plantão. Mas o que os judeus tem a ver com isto? É que um grupo deles (seriam 130 segundo relatos, não tão precisos, dos autos da Insquisição) que teriam saído de Amsterdam -- onde viviam a salvo nas Províncias Unidas dos Países Baixos -- em busca de uma nova vida nos trópicos. Depois de alguns anos no Recife, pouco mais de duas dezenas deles rumaram ao Norte para a fundação da cidade de Nem York. Estou no meio do livro; ainda não cheguei lá...
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